Tenho 2 filhos, o Cauã de 13 anos, saudável e terrível, e o
Arthur e 2 anos, saudável, terrível e portador de Síndrome de Cri Du Chat.
Quando tive o Cauã, em 2003, ele precisou ir para a UTI Semi
Intensiva por 3 dias. Ele nasceu às 33 semanas de gestação e respirava com
dificuldade. Foi um parto complicado, beirando o desumano. Sofrido, dolorido,
demorado, sem assistência, mas foi. E ele nasceu. Eu não pude vê-lo, segurá-lo,
sentir o cheirinho, nada daquelas coisas lindas que eu via na TV ou na
Internet. No dia seguinte eu comecei a visita-lo na “caixinha de vidro”, mas
ele já estava bem e também podia me visitar no quarto as vezes. No segundo dia
precisou, ele precisou ir para o banho de luz para tratar uma Icterícia. Era
coisa simples e eu já me preparava para ir embora naquele mesmo dia. No auge
dos meus 19 anos, me sentia pronta para ir para casa ser mãe do meu pequeno.
Não deu! Ele precisou ficar por mais um dia no banho de luz e eu precisaria ir
embora. Como assim? Ir embora? Deixar meu bebê lá? Com estranhos? Não, não era
possível. Eu achei que fosse morrer. Enfim conseguimos estender minha estadia
por mais um dia e fomos embora juntos no dia seguinte.
Eu nunca me esqueci daquela sensação, daquele pavor que me
tomou quando a suspeita de deixar o pequeno lá surgiu. Sempre que ouvia que o
bebê de alguém havia ficado na UTI, aquela sensação me voltava e me tomava. Eu
sempre dizia que era impossível, que eu não conseguiria, que essa mãe era forte
demais e eu não era.